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DESAFIOS DO AGRONEGÓCIO
O agronegócio tem sido há décadas um dos principais vetores de inovação, desenvolvimento e contribuição para o crescimento da economia brasileira. É inegável a representatividade das atividades ligadas ao campo na composição do produto interno bruto do país.
O crescimento do agronegócio veio acompanhando de uma notável sofisticação dos aspectos jurídicos inerentes às transformações do setor e diante dessa realidade, não há mais espaço para uma visão simplista do agronegócio como as atividades ligadas ao plantio ou pecuária, de modo que se deve entender o agronegócio como um “conjunto organizado de atividades econômicas que envolve a fabricação e fornecimento de insumos, a produção, o processamento e armazenamento até a distribuição para consumo interno e internacional de produtos de origem agrícola ou pecuária, ainda compreendidas as bolsas de mercadorias e futuros e as formas próprias de financiamento, sistematizadas por meio de políticas públicas específicas. (Buranello, 2007, p.187).
Quanto à realidade vivida, há um grande interesse em nível mundial a respeito de como o agronegócio brasileiro vai reagir à crise interna pela qual o País vem passando.
Do lado fiscal, é importante esclarecer, antes de mais nada, que o apoio recebido pelo agronegócio não é expressivo o suficiente para que o setor venha a se ressentir significativamente do endurecimento fiscal, desde que sejam mantidos os modestos investimentos em ciência e tecnologia e as também parcimoniosas políticas nas áreas de gerenciamento de risco, mudanças climáticas, agricultura de baixo carbono, e as voltadas para aspectos sanitários, por exemplo.
Depois da década de 1980, o grau de proteção e apoio público dado à agropecuária nacional caiu aos menores níveis mundiais.
Um fator fundamental para o agronegócio, entretanto, é a infraestrutura – que não se inclui nas aplicações agrícolas no orçamento público, que demanda vultosos investimentos, para os quais o governo não conta com recursos.
Aqui, a solução é o desenho de novos modelos envolvendo o setor privado e que superem os entraves que essas iniciativas têm enfrentado.
Quanto às mudanças no mercado externo, o agronegócio brasileiro deve ficar atento para as ameaças e oportunidades que devem emergir da nova configuração dos padrões de comércio mundial, principalmente as relacionadas ao reposicionamento ainda imprevisível dos Estados Unidos sob a administração Trump. Em relação à possível desaceleração da China, as expectativas são de que seja moderada, mantendo-se esse país como principal destino das exportações brasileiras.
Ademais, o agronegócio tem-se mostrado resiliente às mudanças nas condições mercado. O setor opera numa perspectiva de longo prazo, mantendo o contínuo empenho na busca de produtividade e eficiência, o que tem garantido um crescimento sustentável ao longo de décadas, sem pressão importante sobre os seus preços relativos – e, portanto, sobre a inflação – no mercado interno. A tendência é a de que, havendo um crescimento razoável no mercado internacional, o setor mantenha-se viável, garantindo, ao mesmo tempo, o abastecimento nacional. Ou seja, a recessão tem atingido o setor, como regra, de forma suportável no curto prazo. Clima e ocorrências de pragas e doenças têm sido os fatores que mais ameaçam o setor. É ilustrativo o crescimento esperado na safra corrente. É claro, de qualquer forma, que as perspectivas atuais de alguma recuperação da economia nacional são bem-vindas para o agronegócio.
Nunca é demais destacar que o agronegócio tem papéis fundamentais para a sociedade brasileira, o que não ocorre nas economias mais desenvolvidas com as quais compete no mercado internacional. Por ser um país de renda média e com elevado grau de concentração de renda e pobreza, um agronegócio eficiente – que produza volumes crescentes a preços estáveis ou decrescentes, como é o caso do Brasil – é instrumento essencial para tornar eficazes as políticas distributivistas de transferência de renda e de salários. Não se pode deixar de lembrar, a propósito, que o índice de pobreza no meio rural é praticamente o dobro do observado no País como um todo, questão que deve estar como prioritária na agenda dos formuladores de política pública.
O importante é ter em conta que o governo distribui dinheiro e o agronegócio ajuda a transformar esse dinheiro em renda (capacidade de consumo). No Brasil, o agronegócio também representa fonte de 21% do PIB e de 21% do emprego, tendo um potencial não desprezível para ajudar na recuperação econômica do País. O setor é, ainda, supridor de imprescindíveis reservas internacionais. Mais do que oportunidades legítimas de ganhar dinheiro para os empreendedores, o agronegócio tem um papel social da mais alta relevância no Brasil.